Thursday, February 26, 2004

Influência

Apesar da timidez, ele aproximou-se. Sentiu o coração a cavalgar e a boca seca. Sabia que jogava tudo na primeira impressão. Chegou a avançar alguns passos mas depois representou - apenas para ele - um esquecimento repentino e foi-se embora. Quando chegou a casa apenas queria morrer. Nem sequer acendeu a luz do quarto, adormeceu vestido em cima da cama.

Saturday, February 21, 2004

Friedrich Hebbel

So dir im Auge wundersam
Sach ich mich selbst entstehen.


(E assim, no teu olhar admirado
Vi-me vir a existir.)

Friedrich Hebbel

Sentir-se aceite pelo amor de outra pessoa é uma das condições fundamentais para a pessoa humana poder crescer.

Thursday, February 05, 2004

O Primeiro Aniversário

Este blogue completa hoje um ano de existência. Começou com um extracto de um poema de Pablo Neruda. Foi uma homenagem ao Programa Íntima Fracção pois com o blogue do Francisco descobri a blogosfera.

Aqui fica novamente o extracto desse belíssimo poema. Obrigado Francisco pelo blogue, pelas palavras e pelo magnifico programa que é a Íntima Fracção.

Eu sou o desesperado, a palavra sem ecos, aquele que perdeu tudo, e teve um dia tudo.

Última amarra, range em ti a minha ansiedade última, na minha terra deserta és a última rosa.

Silenciosa.

É esta a solidão de que estás ausente. Chove. O vento do mar caça errantes gaivotas.

A água anda descalça pelas ruas molhadas. Daquela árvore se queixam, como doentes, as folhas.

Tu revives no tempo, fina e silenciosa.

Silenciosa.

Pensando, enredando sombras nesta profunda solidão.

Também tu andas longe, mais longe que ninguém.

Pensando, soltando pássaros, desvanecendo imagens, enterrando lâmpadas.

Entre os lábios e a voz, algo vai já morrendo.

Algo com asas de pássaro, algo de angústia e de esquecimento.

Da mesma forma que as redes não retém a água.

Tuesday, February 03, 2004

Quase nada

O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não tem voz.

Eugénio de Andrade Primeiros Poemas

Sunday, February 01, 2004

A paixão de um mandarim por uma cortesã

Um mandarim estava apaixonado por uma cortesã: «Serei vossa, diz ela, quando tiverdes passado cem noites à minha espera, sentado num tamborete, no meu jardim, debaixo de minha janela.» Mas, à nonagésima nona noite, o mandarim levantou-se, pôs o tamborete debaixo do braço e foi-se embora.

Roland Barthes Fragmentos de um discurso amoroso