A palavra (a frase-palavra) só faz sentido no momento em que a pronuncio; não existe nela outra informação senão o seu dizer imediato: nenhuma reserva, nenhum depósito do sentido.
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso
Wednesday, November 10, 2004
Thursday, July 01, 2004
O Fim
Perdi-te para sempre. Nada mais me importa.
Agora a vida é apenas desespero.
Sem ti apenas aguardo pelo chegar da noite.
Agora a vida é apenas desespero.
Sem ti apenas aguardo pelo chegar da noite.
Sunday, April 25, 2004
Exiit qui seminat seminare semen suum.
Ermo semeador da liberdade,
Saí sozinho, antes da estrela;
Com a mão límpida e sem pecado,
Nos sulcos da terra escravizados
Lancei o grão vivificante -
Pena perdida: perdi o meu tempo,
Meus bons desígnios e meus cuidados...
Pastai então, povos mansos, pastai!
Não vos acorda o clamor da honra.
Os dons da liberdade a um rebanho
À matança ou tosquia destinado?
Vossa herança é, por todo o sempre,
O jugo de chocalhos e a aguilhada.
ALEKSANDR PÚCHKIN (1799-1837)
O cavaleiro de bronze e outros poemas
(tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)
Saí sozinho, antes da estrela;
Com a mão límpida e sem pecado,
Nos sulcos da terra escravizados
Lancei o grão vivificante -
Pena perdida: perdi o meu tempo,
Meus bons desígnios e meus cuidados...
Pastai então, povos mansos, pastai!
Não vos acorda o clamor da honra.
Os dons da liberdade a um rebanho
À matança ou tosquia destinado?
Vossa herança é, por todo o sempre,
O jugo de chocalhos e a aguilhada.
ALEKSANDR PÚCHKIN (1799-1837)
O cavaleiro de bronze e outros poemas
(tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)
Thursday, March 18, 2004
Igual
A flor tem a linguagem de que a sua semente não fala.
A raiz não parece dar aquele fruto.
Não parece que a flor e a semente sejam da mesma linguagem.
Retirada a linguagem
a semente é igual a flor
a flor igual a fruto
fruto igual a semente
destino igual a devir.
E era o que se pedia: igual.
José de Almada Negreiros Poemas
A raiz não parece dar aquele fruto.
Não parece que a flor e a semente sejam da mesma linguagem.
Retirada a linguagem
a semente é igual a flor
a flor igual a fruto
fruto igual a semente
destino igual a devir.
E era o que se pedia: igual.
José de Almada Negreiros Poemas
Thursday, February 26, 2004
Influência
Apesar da timidez, ele aproximou-se. Sentiu o coração a cavalgar e a boca seca. Sabia que jogava tudo na primeira impressão. Chegou a avançar alguns passos mas depois representou - apenas para ele - um esquecimento repentino e foi-se embora. Quando chegou a casa apenas queria morrer. Nem sequer acendeu a luz do quarto, adormeceu vestido em cima da cama.
Saturday, February 21, 2004
Friedrich Hebbel
So dir im Auge wundersam
Sach ich mich selbst entstehen.
(E assim, no teu olhar admirado
Vi-me vir a existir.)
Friedrich Hebbel
Sentir-se aceite pelo amor de outra pessoa é uma das condições fundamentais para a pessoa humana poder crescer.
Sach ich mich selbst entstehen.
(E assim, no teu olhar admirado
Vi-me vir a existir.)
Friedrich Hebbel
Sentir-se aceite pelo amor de outra pessoa é uma das condições fundamentais para a pessoa humana poder crescer.
Thursday, February 05, 2004
O Primeiro Aniversário
Este blogue completa hoje um ano de existência. Começou com um extracto de um poema de Pablo Neruda. Foi uma homenagem ao Programa Íntima Fracção pois com o blogue do Francisco descobri a blogosfera.
Aqui fica novamente o extracto desse belíssimo poema. Obrigado Francisco pelo blogue, pelas palavras e pelo magnifico programa que é a Íntima Fracção.
Eu sou o desesperado, a palavra sem ecos, aquele que perdeu tudo, e teve um dia tudo.
Última amarra, range em ti a minha ansiedade última, na minha terra deserta és a última rosa.
Silenciosa.
É esta a solidão de que estás ausente. Chove. O vento do mar caça errantes gaivotas.
A água anda descalça pelas ruas molhadas. Daquela árvore se queixam, como doentes, as folhas.
Tu revives no tempo, fina e silenciosa.
Silenciosa.
Pensando, enredando sombras nesta profunda solidão.
Também tu andas longe, mais longe que ninguém.
Pensando, soltando pássaros, desvanecendo imagens, enterrando lâmpadas.
Entre os lábios e a voz, algo vai já morrendo.
Algo com asas de pássaro, algo de angústia e de esquecimento.
Da mesma forma que as redes não retém a água.
Aqui fica novamente o extracto desse belíssimo poema. Obrigado Francisco pelo blogue, pelas palavras e pelo magnifico programa que é a Íntima Fracção.
Eu sou o desesperado, a palavra sem ecos, aquele que perdeu tudo, e teve um dia tudo.
Última amarra, range em ti a minha ansiedade última, na minha terra deserta és a última rosa.
Silenciosa.
É esta a solidão de que estás ausente. Chove. O vento do mar caça errantes gaivotas.
A água anda descalça pelas ruas molhadas. Daquela árvore se queixam, como doentes, as folhas.
Tu revives no tempo, fina e silenciosa.
Silenciosa.
Pensando, enredando sombras nesta profunda solidão.
Também tu andas longe, mais longe que ninguém.
Pensando, soltando pássaros, desvanecendo imagens, enterrando lâmpadas.
Entre os lábios e a voz, algo vai já morrendo.
Algo com asas de pássaro, algo de angústia e de esquecimento.
Da mesma forma que as redes não retém a água.
Tuesday, February 03, 2004
Quase nada
O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não tem voz.
Eugénio de Andrade Primeiros Poemas
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não tem voz.
Eugénio de Andrade Primeiros Poemas
Sunday, February 01, 2004
A paixão de um mandarim por uma cortesã
Um mandarim estava apaixonado por uma cortesã: «Serei vossa, diz ela, quando tiverdes passado cem noites à minha espera, sentado num tamborete, no meu jardim, debaixo de minha janela.» Mas, à nonagésima nona noite, o mandarim levantou-se, pôs o tamborete debaixo do braço e foi-se embora.
Roland Barthes Fragmentos de um discurso amoroso
Roland Barthes Fragmentos de um discurso amoroso
Monday, January 19, 2004
O Blogue da Tatas
É verdade tatas, foi com muito carinho que adicionei o teu blogo à minha lista de links.
Continua assim ;)
Continua assim ;)
Thursday, January 01, 2004
O Discurso de Amor
Embora o discurso de amor não seja senão uma poeira de figuras que se agitam segundo uma ordem imprevisível à maneira do voltear de uma mosca num quarto, posso atribuir ao amor, pelo menos retrospectivamente, imaginariamente, uma transformação organizada: é por este fantasma histórico que por vezes me preocupo: uma aventura. A evolução de amor parece então seguir três etapas (ou três actos): é, inicialmente, instantaneamente, a captura (sou seduzido por uma imagem); sucedem-se então vários encontros (combinações, telefonemas, cartas, pequenos passeios) durante os quais «exploro» com embriaguez a perfeição do ser amado, isto é, a inesperada adequação de um objecto ao meu desejo: é a doçura do princípio, o característico período do idílio. Este tempo feliz adquire a sua identidade (a sua clausura) por oposição (pelo menos na recordação) à «continuação»: a «continuação» é a longa cadeia de sofrimentos, dores, angústias, depressões, ressentimentos, desesperos, embaraços e armadilhas de que sou vítima, vivendo então permanentemente sob a ameaça de uma decadência que atingiria ao mesmo tempo o outro, eu próprio e o prestigioso encontro que nos fez descobrir um ao outro.
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso
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