Sunday, December 17, 2006

A exuberância

DISPÊNDIO: Figura pela qual o sujeito apaixonado aspira e hesita simultaneamente em colocar o amor numa economia do puro gesto, da perda «para nada».

O discurso de amor não está desprovido de cálculos: medito, por vezes conto, seja para obter tal satisfação, para evitar tal mágoa, seja para impor interiormente ao outro, num movimento de humor, o tesouro dos artifícios que delapido para nada em seu favor (ceder, esconder, não ferir, divertir, convencer, etc.). Mas estes cálculos não são mais do que impaciências: nenhum pensamento de um ganho final: o Dispêndio está aberto, até ao infinito, a força deriva, sem objectivo (o objecto amado não é um objectivo: é um objecto-coisa, não um objecto-fim).

Fragmentos de um discurso amoroso.
Roland Barthes
colecção Signos - edições 70

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